A leitura desempenha um papel fundamental na promoção da saúde mental, exercendo influência positiva em diversos aspectos do bem-estar social e psicológico das pessoas. O ato de ler, algo aparentemente simples, pode proporcionar benefícios que contribuem para o equilíbrio emocional e o desenvolvimento cognitivo.
Quando mergulhamos em narrativas literárias através das páginas de um livro, podemos encontrar formas de lidar com as questões complexas do cotidiano de diferentes ordens. Seja para escapar do estresse, encontrar um refúgio onde a mente possa se desconectar das preocupações imediatas ou mesmo para distração, lazer ou uma pausa das pressões do dia a dia.
A literatura é uma ferramenta poderosa para construir empatia, permitindo que os leitores se identifiquem com personagens diversos e compreendam diferentes perspectivas da vida e dos relacionamentos humanos. Quando nos transportamos para dentro de uma história, vivenciamos as dores e as alegrias dos seus personagens, construímos narrativas com eles, enquanto nos apresentam mundos possíveis, experiências e expectativas jamais vividas. O mundo do personagem se encontra com o mundo do leitor, e um atravessa a vida do outro em verdadeira sintonia.
A capacidade de explorar temas complexos nas obras literárias pode auxiliar na compreensão e enfrentamento de desafios pessoais, proporcionando uma forma construtiva de lidar com as emoções. Muitas obras literárias são escritas a partir de experiências vivenciadas no mundo real, e com elas enxergamos possíveis soluções para o enfrentamento de acontecimentos do cotidiano.
A leitura literária também nos conecta com a realidade, pois auxilia no desenvolvimento da empatia, ao compartilhar sentimentos e a reconhecer nossas emoções e as dos outros de forma mais generosa, demonstrando cuidado e compaixão em nossas relações sociais. Tudo isso pode nos levar à construção de uma sociedade mais compreensiva e solidária. Essa conexão emocional contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, pessoais e emocionais, fortalecendo o entendimento do próprio eu e do mundo ao nosso redor.
A biblioterapia e o valor terapêutico da leitura
Os livros podem atuar como fontes de inspiração, conforto e orientação, proporcionando um meio de reflexão e compreensão de experiências pessoais. Nesse contexto, está a biblioterapia, uma abordagem prática que utiliza a leitura como instrumento para o autoconhecimento e enfrentamento de situações cotidianas: depressão, ansiedade, luto, solidão, medo, perdas diversas dentre outras questões emocionais que envolvem a saúde mental. Destacam-se dois tipos: a biblioterapia clínica, de competência de psicólogos, e a de desenvolvimento, que lida principalmente com questões sociais e afetivas, realizada por bibliotecários, educadores ou mediadores de leitura.
Para as práticas de biblioterapia são utilizados livros, poesias, contos, histórias variadas, textos diversos que, ao serem lidos e dialogados, possibilitam aos participantes da atividade diferentes formas de ver e compreender a situação e as emoções vivenciadas. Em geral, são leituras de identificação, que trazem reflexões sobre temáticas que tocam o leitor de alguma maneira. O mediador conhece o texto e reconhece as dificuldades enfrentadas a serem trabalhadas individualmente ou em grupo.
Assim, fica evidente que a leitura transcende o lazer, sendo uma prática que contribui efetivamente para a saúde mental, nutrindo a mente, promovendo a saúde emocional e possibilitando o bem-estar psicológico. Integrar a leitura ao cotidiano é uma estratégia valiosa para cuidar das emoções e das relações sociais.
Como a biblioteca pública pode contribuir?
A biblioteca pública pode e deve promover práticas de biblioterapia, pois estas são espaços inclusivos e de encontros, promotores da diversidade literária e conexões humanas. Para isso, é importante o planejamento das ações, que envolvem especialmente a identificação e conhecimento do público, os objetivos das atividades e a cuidadosa seleção e leitura dos textos.
Podemos iniciar criando espaços acolhedores e inclusivos, onde todas as pessoas se sintam bem-vindas. Detalhes como paredes coloridas, vasos de plantas, almofadas, música relaxante, boa ventilação e luminosidade contribuem para esse ambiente. Ah, e os livros claro, muitos livros!
A realização de atividades como círculos de leitura, debates e trocas de experiências estimulam o desenvolvimento de habilidades sociais e comunicativas, fortalecendo os laços comunitários e incentivando o prazer de ler. É importante que os participantes se sintam à vontade para falar ou mesmo somente para escutar.
A criação de clubes de leitura na biblioteca, com a escolha de livros do acervo, é uma excelente iniciativa. Obras literárias inspiradoras, como “Quarto de Despejo” (Carolina Maria de Jesus), “Pequena Coreografia do Adeus” (Aline Bei), “Triste não é ao Certo a Palavra” (Gabriel Abreu) e “O Avesso da Pele” (Jeferson Tenório), carregam o potencial transformador das relações pessoais e humanas, sendo escolhas valiosas para essas práticas.
Por: Lidia Eugenia Cavalcante